domingo, 20 de novembro de 2016

Os Tupi e os portugueses: Texto

O ENCONTRO DE PORTUGUESES COM OS POVOS INDÍGENAS
Após os primeiros contatos, os portugueses foram incorporando elementos da cultura indígena, da mesma forma que os indígenas foram adotando padrões europeus. O contato entre culturas promove esse intercâmbio e a adoção de novos costumes por ambas as partes, mesmo que essa relação seja caracterizada como de dominação, como nesse caso. Muitos portugueses tinham esposas nativas e seus filhos já não eram lusos, mas mestiços. Aprendiam a língua local, assim como os costumes transmitidos pelos indígenas, aprendendo a se alimentar com os produtos da terra, como a mandioca, o milho, as frutas e peixes nativos. Os indígenas, aprisionados ou catequizados, foram inseridos em formas de trabalho sistemático, seja pelo colonizador, interessado em explorar a sua mão de obra, seja pelos jesuítas, que entendiam o trabalho como forma de lidar com a indolência, considerada natural ao nativo.
No interior, de escasso povoamento, predominavam os costumes indígenas. A primeira área colonizada do interior do continente tinha como centro o sertão de Piratininga, onde surgiu a cidade de São Paulo, marcando a história de toda a colonização das terras interiores do Brasil. Diferentemente da costa ligada ao comércio de cana-de-açúcar , o interior estava ocupado por jesuítas e pelos poucos que se aventuravam a subir a Serra do Mar. Os jesuítas, preocupados em catequizar os nativos, logo aprenderam a língua local e, como bons gramáticos, estudaram o tupi. Acredita-se que estruturas de suas línguas de origem (latim, português) foram se incorporando ao tupi. Como se vê, a língua é um bom exemplo de como a relação entre culturas resulta em fenômenos singulares de representação do sincretismo que o convívio promove. O resultado foi que, por mais de duzentos anos. a principal língua falada nos sertões era o tupi. Os bandeirantes, a maioria de origem paulista, falavam o português e o tupi, sendo responsáveis pela difusão deste último para o que viria a ser Minas Gerais, Goiás, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Tocantins, Paraná. Por esse motivo, os topônimos predominantes em todo o Brasil são tupis.
Embora muitos bandeirantes fossem mestiços e falantes do tupi, eram caçadores de indígenas. As mulheres podiam servir como esposas, ou, como os homens, eram vendidas como escravas para as fazendas cana vi eiras. Calcula-se que mais de 350 mil indígenas tenham sido escravizados e vendidos para as fazendas nordestinas nos primeiros 150 anos da plantação de cana (1550-1700). Isso significa que esses indígenas foram vitais para a produção agrícola portuguesa. Eles eram chamados de negros da terra, para diferenciá-los dos negros da Guiné, como eram chamados os africanos.
Os jesuítas fizeram dos povos indígenas o foco de sua atuação no continente americano. Criaram as missões, locus da catequese e do aprendizado da cultura europeia, como também buscaram resguardar os guaranis dos ataques bandeirantes e das autoridades lusas e espanholas. Essas missões eram comunidades geridas sem interferência direta das coroas e estavam sob controle eclesiástico. Contudo, ali os indígenas podiam, por exemplo, preservar seu idioma, como parte de seus costumes, mesclados com a catequese cristã. O aprendizado do catolicismo e a adoção de novos costumes, mesmo que misturados aos de origem, levou gradativamente à modificação da cultura indígena. As missões foram um dos alvos preferidos dos bandeirantes na busca do aprisionamento dos indígenas, já que eles se encontravam agrupados e aculturados.
A expulsão dos jesuítas, em meados do século XVIII, e o Tratado de Madri, entre as coroas de Portugal e Espanha, selaram o destino das missões, que foram destruídas e seus povos dispersos. Vestígios desses povos missioneiros sobreviveram no Paraguai, na Argentina e no Brasil atuais.
A mineração do século XVIII viria a pôr termo, com o passar do tempo, ao uso do tupi no interior do Brasil. Os costumes indígenas, a toponimia e as tradições caboclas, contudo, nunca deixaram de predominar. O Brasil não pode se reconhecer sem incorporar essa influência determinante em sua formação.
http://mekstein.blogspot.com.br/2010/02/o-encontro-de-portugueses-com-os-povos.html

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