O ENCONTRO DE PORTUGUESES COM OS
POVOS INDÍGENAS
Após
os primeiros contatos, os portugueses foram incorporando elementos da cultura
indígena, da mesma forma que os indígenas foram adotando padrões europeus. O
contato entre culturas promove esse intercâmbio e a adoção de novos costumes
por ambas as partes, mesmo que essa relação seja caracterizada como de
dominação, como nesse caso. Muitos portugueses tinham esposas nativas e seus
filhos já não eram lusos, mas mestiços. Aprendiam a língua local, assim como os
costumes transmitidos pelos indígenas, aprendendo a se alimentar com os
produtos da terra, como a mandioca, o milho, as frutas e peixes nativos. Os
indígenas, aprisionados ou catequizados, foram inseridos em formas de trabalho
sistemático, seja pelo colonizador, interessado em explorar a sua mão de obra,
seja pelos jesuítas, que entendiam o trabalho como forma de lidar com a
indolência, considerada natural ao nativo.
No
interior, de escasso povoamento, predominavam os costumes indígenas. A primeira
área colonizada do interior do continente tinha como centro o sertão de
Piratininga, onde surgiu a cidade de São Paulo, marcando a história de toda a
colonização das terras interiores do Brasil. Diferentemente da costa ligada ao
comércio de cana-de-açúcar , o interior estava ocupado por jesuítas e pelos
poucos que se aventuravam a subir a Serra do Mar. Os jesuítas, preocupados em
catequizar os nativos, logo aprenderam a língua local e, como bons gramáticos,
estudaram o tupi. Acredita-se que estruturas de suas línguas de origem (latim,
português) foram se incorporando ao tupi. Como se vê, a língua é um bom exemplo
de como a relação entre culturas resulta em fenômenos singulares de
representação do sincretismo que o convívio promove. O resultado foi que, por
mais de duzentos anos. a principal língua falada nos sertões era o tupi. Os
bandeirantes, a maioria de origem paulista, falavam o português e o tupi, sendo
responsáveis pela difusão deste último para o que viria a ser Minas Gerais,
Goiás, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Tocantins, Paraná. Por esse motivo, os
topônimos predominantes em todo o Brasil são tupis.
Embora
muitos bandeirantes fossem mestiços e falantes do tupi, eram caçadores de indígenas.
As mulheres podiam servir como esposas, ou, como os homens, eram vendidas como
escravas para as fazendas cana vi eiras. Calcula-se que mais de 350 mil
indígenas tenham sido escravizados e vendidos para as fazendas nordestinas nos
primeiros 150 anos da plantação de cana (1550-1700). Isso significa que esses
indígenas foram vitais para a produção agrícola portuguesa. Eles eram chamados
de negros da terra, para diferenciá-los dos negros da Guiné, como eram chamados
os africanos.
Os
jesuítas fizeram dos povos indígenas o foco de sua atuação no continente
americano. Criaram as missões, locus da catequese e do aprendizado da cultura
europeia, como também buscaram resguardar os guaranis dos ataques bandeirantes
e das autoridades lusas e espanholas. Essas missões eram comunidades geridas
sem interferência direta das coroas e estavam sob controle eclesiástico.
Contudo, ali os indígenas podiam, por exemplo, preservar seu idioma, como parte
de seus costumes, mesclados com a catequese cristã. O aprendizado do catolicismo
e a adoção de novos costumes, mesmo que misturados aos de origem, levou
gradativamente à modificação da cultura indígena. As missões foram um dos alvos
preferidos dos bandeirantes na busca do aprisionamento dos indígenas, já que
eles se encontravam agrupados e aculturados.
A
expulsão dos jesuítas, em meados do século XVIII, e o Tratado de Madri, entre
as coroas de Portugal e Espanha, selaram o destino das missões, que foram
destruídas e seus povos dispersos. Vestígios desses povos missioneiros sobreviveram
no Paraguai, na Argentina e no Brasil atuais.
A
mineração do século XVIII viria a pôr termo, com o passar do tempo, ao uso do
tupi no interior do Brasil. Os costumes indígenas, a toponimia e as tradições
caboclas, contudo, nunca deixaram de predominar. O Brasil não pode se
reconhecer sem incorporar essa influência determinante em sua formação.
http://mekstein.blogspot.com.br/2010/02/o-encontro-de-portugueses-com-os-povos.html
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